segunda-feira, dezembro 11, 2006

uma reportagem que é um país

No Público de 10dez, sob o título “93 postos de trabalho por um euro”, um retrato do país em que nos vamos transformando:

Uma empreendedora, Conceição Pinho, que merece todo o meu respeito (como merecem todos os que lutam pela vida, sem a asa protectora do estado) comprou uma fábrica (Afonso, Confecção de Vestuário) aos seus antigos donos, que a iam fechar. Não por 1 euro, mas por 1 euro + passivos (250 mil euros, segundo a reportagem) - activos (dos quais não se fala, porque para os jornalistas as organizações só têm passivos…)

“400 euros mensais, é o salário médio dos operários da fábrica”, i.é., ganham todos próximo do salário mínimo nacional (SMN) e, mesmo assim, lutam dia a dia pela sobrevivência…No próximo ano, com o aumento do SMN, a empresa terá ainda maiores dificuldades para sobreviver, pois vende “minutos” em concorrência com outros que os vendem mais baratos, e o diferencial aumentará.
Desejo que não, mas e se um dia a empresa for à falência pela incapacidade de suportar o aumento de custos? Pergunto eu, que percebo pouco disto: é melhor uma empresa continuar a laborar, dando emprego a 93 pessoas, pagando o que pode, ou ir á falência e os 93 operários para o (subsídio de) desemprego?

Uma pérola final: "dois partidos políticos quiseram visitar a fábrica, mas desistiram quando lhes foi dito que não poderiam vir acompanhados de jornalistas". Isto de defender causas sem jornalistas para as registar é uma canseira…

Boa sorte para a empresa e para esta ex-trabalhadora, hoje empresária, que afirma, ao arrepio dos vendedores de ilusões: “É um empresa perfeitamente normal. Uma cooperativa com 90 cabeças dura uma semana, não dura mais” Nem mais.

1 comentário:

Anónimo disse...

Meu caro,

Eu gostaria que todas as empresas pagassem bem acima do SMN, e bem acima do SMédioN.

Compreendo o teu raciocinio e até concordo com ele, mas o que digo é que com ou sem SMN as empresas vão direccionando a sua actividade para as àreas mais lucrativas.

O problema, que não tem solução, é para as pessoas que, se a empresa fechar, não vão arranjar emprego em lado algum. E, para mim, trabalhar, seja no que for, qualifica e dá dignidade. Estar desempregado não.

Com liberalização do mercado de trabalho e sem SMN (bem como com outros factores) a média dos salários aumentaria e as pessoas que pudessem, por qualificação ou oportunidades, iriam para empresas/áreas que pagassem melhor. As outras, se o quisessem, pelo menos tinham emprego até melhor oportunidade. Se não, ficariam no desemprego. Era opção de cada um.

Pessoalmente, tanto se me dá, pois não quero estar em actividades onde tenha que pagar o SMN para as manter. Conheço é muitas empresas que, infelizmente, vão fechando, devido a todos custos (de mercado)que as tornam menos competitivas. O SMN não é o problema, é apenas mais um factor a ajudar. E o que eu acho é que já chegam os factores da competição, não é necessario a criação de outros artificialmente.