terça-feira, janeiro 02, 2007

plenamente de acordo


"... por razões quase genéticas, o Porto tem de me preocupar mais do que qualquer outra cidade ou sítio de Portugal. Se, como dizia Agostinho da Silva, o nosso domínio é, primeiro, o nosso território, a nossa casa, o nosso alpendre e o que dele a nossa vista pode alcançar, é natural que, como liberal, me preocupe mais com a cidade onde nasci..."
“...quem quer fazer política ou negócios vai, ou tem que ir, para Lisboa, na medida em que é lá que eles estão: é lá que está a Chefia do Estado, o Governo, o Parlamento, a maior parte das chefias da administração pública, das empresas do Estado ou controladas por ela. É lá, sobretudo, que está o poder de decisão. O efeito centrífugo disto é evidente, e aliado a essa nova e perigosíssima ideia de que com a moderna tecnologia se pode governar o mundo a partir de um só ponto, gera um caldo de cultura do qual dificilmente se pode sair. O que é facto, é que no Porto, e leia-se aqui «o Porto» em sentido latíssimo, como sinónimo de todos os centros urbanos de média e grande dimensão que (ainda) existem em Portugal, têm vindo a perder gente qualificada para Lisboa e, mais do que isso, não têm permitido que muitas pessoas se revelem, se afirmem localmente, pela elementar evidência de não existirem meios para isso.”

“...não apenas o Porto mas quase todo o país, ganharia com uma reforma estrutural do Estado português que o transformasse de unitário em regional ou mesmo (utopia inatingível) em federal. Quando se pensa neste assunto, não se pretende dividir o país em duas grandes regiões em torno de Lisboa e do Porto, mas em tantas quantas aquelas que o país (ainda) pode justificar. Os poderes e as competências a distribuir entre o Estado central e as regiões não discriminariam positiva ou negativamente nenhuma destas últimas, ficando todas em pé de igualdade, como é próprio de um Estado de direito.”

“De todo em todo, há um paradoxo que me aflige em tudo isto, sobretudo para os adversários da regionalização, e peço desculpa se generalizo para além do devido: todos concordam que o Estado central funciona mal; todos acham que o país está desequilibrado; todos se queixam da desertificação do interior. Mas todos pensam que o único resultado de retirar poder ao centro para redistribuir pelo todo redundaria numa tragédia nacional de ainda maiores proporções que a actual. É muito pessimismo junto!”

2 comentários:

rui a. disse...

Obrigado pela referência, caro Ricardo.

Ricardo disse...

Caro Rui.

Obrigado eu, pela qualidade do post.

Espero que continue, pois a regionalização é, na minha opinião, questão pela qual vale a pena lutar, porque se voltar a referendo (difícil, não impossível) acredito que, desta vez, o sim pode ganhar. E se ganhar, será dado início a um processo que no médio prazo alterará o estado do país. E não será para pior.