terça-feira, outubro 31, 2006

Dinheiro! O veredicto que pronunciares sobre a sua origem é igual ao veredicto que pronunciares sobre a tua vida*

O Dinheiro é um direito de saque. Mas esse instrumento de troca não pode existir a não ser que haja mercadorias e bens a ser transaccionados. É o instrumento de equidade que determina que dois homens livres trocam o que quiserem oferecendo valor por valor igual.

Por isso, o dinheiro não é o instrumento de um mendigo, nem é o instrumento de um ladrão nem de um saqueador, pois esses indivíduos querem adquirir o direito de saque sem ter contribuído com nada de valor para a troca. Não há oceano de lágrimas, nem arsenal militar, nem todas as armas do mundo poderiam transformar o papel (que deveria ser ouro) do teu bolso em pão que precisas para sobreviver até ao dia de amanhã.

Dizem que o dinheiro é detido pelos fortes em detrimento dos fracos? Mas de que força falam? De certeza que não é a força dos músculos. O bem-estar advém da capacidade que o homem tem de raciocinar. O dinheiro produzido por alguém que inventa um motor é feito em detrimento de quem não o inventou? O dinheiro produzido por uma mente inteligente é produzida em detrimento de uma mente inapta? Um trabalhador competente produz em detrimento de um incompetente? Um investidor ambicioso ganha em detrimento de um pensionista prudente que compra títulos do tesouro? Não! A produção de valor antecede a vontade de saquear. É esta regra de precedências que não alcança a mente de quem se diz com direito de retirar o dinheiro.
Efectuar trocas por meios de dinheiro é um princípio ético. Significa que cada homem é dono do seu próprio corpo. O dinheiro restringe a prescrição do teu esforço ao serviço de outrem para além da tua vontade. Permite-te de seguida obter bens pelo valor que o homem para quem trabalhas oferece. Ao deter dinheiro tens de reconhecer que o homem trabalha para o seu próprio proveito, não para o seu prejuízo. Tens de reconhecer que não são bestas de carga para levar com o prejuízo e a miséria dos outros. O dinheiro é um instrumento de troca de proveitos, não de misérias. O dinheiro permite-te trocar o teu talento à luz da razão, não as tuas fraquezas à luz da estupidez. Do mesmo modo que tu compras o melhor que o teu dinheiro pode oferecer.

Queres o melhor produto, o melhor desempenho, fazendo o teu melhor julgamento. Este é o código moral que o dinheiro representa. É isto que queres distorcer e destruir?

Mas o dinheiro é apenas um instrumento. Pode-te levar onde quiseres, mas não se substitui a ti como condutor. Dá-te os meios de satisfazer os teus desejos, mas não te incute desejos. O dinheiro é um obstáculo para aqueles que tentarem reverter a lei da casualidade. O dinheiro não trará felicidade a alguém que se evade do conhecimento da valorização, nem lhe dará um propósito se ele desistir de procurar. Não trará inteligência para um tolo, respeito por um incompetente, nem admiração por um cobarde. O homem que puder comprar a inteligência dos seus superiores pondo-o ao ser serviço, passando assim ele a julgar, acabará como sua vítima mais tarde. Acabarão por abandoná-lo e voltar a seus superiores. Ele descobrirá assim que homem algum poderá ser inferior ao seu dinheiro. É este um mau princípio? É isto que se deve corrigir?

Apenas um herdeiro que não precisa do dinheiro está apto a herdar esse bem-estar. Se um herdeiro estiver à altura do seu dinheiro, ele irá servi-lo do mesmo modo de quem o criou. Caso contrário, acontece precisamente o que escrevi no parágrafo acima. Dizem que o dinheiro o corrompeu. Ou terá sido antes ele a corromper o seu dinheiro? Não sintas inveja de um herdeiro sem valor. O seu bem-estar não é o teu. E tu não terias feito melhor que ele. Não consideres que a herança dele deveria ter sido dividida contigo. Arranjar 100 parasitas em vez de um só não traria de volta o valor de quem faleceu. O dinheiro é um poder vivo que morre quando não tem mais raízes. O dinheiro não serve a mente que não está à sua altura. É este o princípio que se deve destruir?

O dinheiro é o teu meio de existência. O veredicto que pronunciares sobre a sua origem é igual ao veredicto que pronunciares sobre a tua vida. Se corromperes a sua origem, vais destruir a tua própria existência. Conseguiste adquirir o teu dinheiro através de mendicidade ou da fraude? Os teus bens não serão tributo do teu mérito, mas antes um estandarte da tua vergonha. Então podes sair à rua e gritar que o dinheiro é mau e perverso. Porque te vai lembrar a tua depravação. É por isso que consideras o dinheiro mau e fonte de corrupção? É por isso que defendes a sua redistribuição?

Não há ninguém que goste tanto do dinheiro como quem o adquiriu honestamente. Nem ninguém que o despreze tanto como aquele que o obteve sem o merecer. Cada vez que ouvires uma palavra de desprezo em relação ao dinheiro podes concluir se estás a falar com alguém que não vive do dinheiro que produz, antes alguém que vive com o sustento dos outros.

Pobre de quem, por falta de auto-estima se sentir culpado por aquilo que possui. De quem não tem sentido moral do seu direito. De quem não estiver pronto a defender a sua própria vida. Estarão à mercê de uma horda de saqueadores sedentos. Seres rastejantes que saltam da sua toca assim que farejam alguém que esteja disposto a pedir perdão pelo seu bem-estar. Eles virão prontamente buscar o seu saque, aliviá-lo da sua culpa, e da sua vida.

Queres meter no topo da nossa sociedade uma elite que vive com esse duplo critério? Que usam a força bruta em vez do poder da razão? Numa sociedade com ética, eles seriam nada mais que criminosos. Mas se estabeleceres uma sociedade de criminosos-por-direito e saqueadores-pela-lei, vais ter homens a usar a força para tirar o valor das mãos de vítimas desarmadas. Esses homens do sistema acreditam estar a salvo devido às leis que eles criaram para os proteger. Mas estarão mais tarde a mercê de alguém que usar o mesmo estratagema. Vencendo aquele que mais pisar os restantes. Terás uma sociedade não será mais valorizada a inteligência mas sim a força bruta. A sociedade só pode ruir sob o saque e a guerra.

Queres saber quanto tempo falta para esse dia chegar? Observa a saúde do dinheiro. Se vires que o dinheiro é uma questão de favores, e não de trocas justas, se vires a corrupção ser recompensada como honestidade. E a honestidade a tornar-se um sacrifício pessoal. Se vires enriquecerem à tua custa, e a lei protege-os a eles e não a ti, então esse dia está próximo.

Se quiseres destruir uma sociedade começa por destruir o dinheiro. Pilha as reservas centrais. E emite uma pilha de papel contrafeito a quem tinha anteriormente uma garantia de valor. Isso vai matar todas as referências objectivas, e vais por as pessoas a viver sob regras arbitrárias. O ouro é um valor intemporal. O papel é um valor arbitrário, emitido por saqueadores que mexem nas contas que não lhes pertencem. Espera pelo dia em que vires a tua conta a zero.

Quando acabares de destruir todos os meios de sobrevivência, não tenhas esperanças nas virtudes do homem. Não esperes que ele continue a produzir, se o esforço for punido, e o saque recompensado. Não comeces a perguntar: “quem está a destruir o mundo”. Porque és tu próprio.
*Adaptado do inglês "D'Anconia Money Speech"

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